domingo, 7 de dezembro de 2014

Problemas médicos (Parte 2)


Na fase inicial da doença de Alzheimer, se houver incontinência, o simples fato de conduzir ou estimular o paciente a urinar com maior frequência apresentará bons resultados.
Uma avaliação rigorosa deve incluir um registro detalhado do histórico da incontinência, horários, frequência, severidade, duração, medicamentos em uso, diabetes, dor/ardor ao urinar, coloração e cheiro da urina, histórico de cálculo renal etc.
Registros das ocorrências bem-feitos e analisados podem demonstrar onde está a chave da questão, minimizando os episódios a partir de medidas simples, como a restrição monitorada de líquidos a partir de um determinado horário, em casos de incontinência noturna.
O registro feito pelo cuidador deve conter informações do comportamento da incontinência e do hábito urinário a cada duas horas, por um período de 48 horas.
A Tabela 4.27.1 ilustra um registro simples, prático e com informações fundamentais Tabela 4.27.1 Registro de ocorrências
Hora

Estado
Seco (S)
Molhado (M)

Quantidade
Pouco (P)
Regular (R)
Muito (M)

Medicações

Líquidos/Alimentos

Observações

8

M

M

Diurético



Avisou que estava urinando

10

S

X





Foi conduzido
e urinou

12

S

X



Almoço + sucos



14

M

P



Lanche + leite

Não avisou

16

S

X





Pediu e foi conduzido
Urinou

18

M

R



Jantar + sucos

Dormindo

Esses registros auxiliam decisivamente na avaliação da incontinência e devem ser preenchidos com rigor.

Algumas medicações podem ajudar no controle da incontinência urinária e devem ser prescritas pelo médico caso a caso.
As drogas anticolinérgicas devem ser evitadas em paciente com doença de Alzheimer, pois podem desencadear e/ou agravar os quadros de incontinência. Além dessas providências, quando a incontinência se torna irreversível e esgotam-se as outras possibilidades de êxito, utilizam-se outros recursos que devem ser adaptados individualmente às necessidades.
Um paciente incontinente vítima de um AVC (derrame) pode se beneficiar mais com o uso de fraldas, pois poderá, com a mão que conservou os movimentos,auxiliar e colaborar para urinar em horários predeterminados.
 Já para pacientes restritos ao leito e demenciados, lençóis impermeáveis de borracha ou com gel absorvente são mais apropriados.
Para pacientes demenciados que andam, o uso de fraldas com gel absorvente é indicado, mas, se houver incontinência fecal associada, outro recurso deverá ser utilizado.
As calças plásticas devem ser usadas com muita cautela, pois são frequentemente responsáveis por processos infecciosos.



Figura 4.27.8

A camisinha (camisa-de-vênus) com cateter, conhecida como uripen, é útil para pacientes do sexo masculino. Esse recurso apresenta complicações, especialmente as lesões de pele por alergia.
Para as mulheres não há, infelizmente, até o momento um coletor externo realmente eficiente. 
Soluções inusitadas têm sido propostas no manejo da incontinência urinária, como os grampos de pênis, confeccionados de material de consistência semelhante à espuma de borracha, comprimindo a uretra e evitando a incontinência. Previsivelmente, por serem incômodos e antinaturais, não obtiveram sucesso em sua utilização.
Todos esses artefatos, especialmente quando o paciente continua em atividade, devem estar disfarçados, dissimulados, escondidos dentro das roupas, para a preservação da dignidade.
O uso de comadres para mulheres e papagaios para os homens pode ser útil, especialmente à noite e para os pacientes restritos ao leito.
Os vasos sanitários portáteis podem ser utilizados em viagens quando não se sabe haverá um banheiro disponível nos horários predeterminados.
Alguns cuidadores usam a técnica da recompensa, oferecendo doces e guloseimas, quando o paciente consegue se manter seco por determinado período de tempo. Essa é mais uma estratégia questionável, porém certos cuidadores afirmam obter resultados positivos.


A incontinência fecal é mais grave que a urinária e, quando se instala, dificilmente é reversível. É necessário que ao primeiro sinal de incontinência fecal alguns pontos sejam checados:

Presença de doença anorretal
Uso abusivo de laxativo
Presença de impactação fecal
Fecalomas
Um exame proctológico completo se impõe.
Uma dieta direcionada para regularizar o funcionamento intestinal, lentificando-o dentro de rígidos critérios, dietas constipantes, indução de constipação controlada por medicamentos e predeterminação dos horários para a evacuação são os recursos disponíveis que, se convenientemente utilizados, reduzem o grau e a severidade dessa trágica complicação.
A antecipação do acidente é um dos melhores instrumentos no gerenciamento da incontinência fecal. Conduzir o paciente em horários predeterminados apresenta bons resultados. Esse procedimento pode ser demorado até tornar-se rotina, porém os resultados compensam o esforço.


Ações como sentar o paciente no vaso sanitário e ficar junto a ele conversando calmamente, ouvir música, abrir a torneira da pia (para o ruído tentar estimular a micção), verificar se o ambiente está calmo e que não existem outras pessoas no recinto (que poderiam estar inibindo o paciente) são medidas adicionais mas fundamentais no sucesso do enfrentamento dessa crucial questão que atinge frontalmente a dignidade do indivíduo.
Se o uso de sonda vesical permanente tiver que ser utilizado, por causa de escaras ou outras condições, a sonda deverá ser de diâmetro e balão adequados. Sondas com balão e calibres pequenos são comumente responsabilizadas pela perda de urina ao redor da sonda, porém esse é um equívoco, uma vez que normalmente esse fluxo se deve à contratura vesical, e, dessa forma, a troca por uma sonda balão e diâmetros maiores só agravará o problema, podendo causar erosão uretral e incontinência fecal.
Detectado o fato, o uso de medicações específicas contribui para a resolução do problema.
A sonda de demora deve estar conectada a um coletor fechado e não deve ser lavada com antissépticos nem fechada por alguns períodos.
A técnica de treinamento da bexiga, clampeando a sonda por alguns períodos está superada e pode perpetuar as infecções do aparelho urinário.
As sondas vesicais devem ser trocadas, no máximo, a cada 3 semanas, por profissional, com rigorosa técnica e assepsia.

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