segunda-feira, 20 de outubro de 2014

A doença de Alzheimer e os antiinflamatórios controlado

 Com base nas evidências de que os processos inflamatórios estejam envolvidos na patogênese
da doença de Alzheimer as pesquisas têm observado o uso de drogas antinflamatórias não esteleroides e glicocorticóides esteroidais como opção de tratamento para pacientes portadores
da doença de Alzheimer. Evidências epidemiológicas indicaram que as drogas antinflamatórias não-esteroidais foram
capazes de reduzir o risco de desenvolvimento da doença de Alzheimer. Estudos post mortem têm demonstrado a habilidade das drogas antinflamatórias não-esteroidais em reduzir a
inflamação, a qual foi consistentemente observada no tecido cerebral de portadores da doença
de Alzheimer. Um possível modo de ação para a eficácia dos antinflamatórios não-esteroidais
seria o bloqueio específico da isoforma ciclooxigenase-2 (COX-2) no cérebro de pacientes
portadores da doença de Alzheimer. Estudos têm demonstrado que o RNA mensageiro
(RNAm) da COX-2 esteve consideravelmente aumentado em áreas afetadas pela doença de
Alzheimer, sugerindo o envolvimento da COX-2 nessa doença. De fato, a aplicação de Aβ (1-
42) (5 microM) em culturas humanas de micróglia durante 8 horas induziu a expressão e o
aumento da produção das citocinas pró-inflamatórias IL-6, IL-1β, TNF-α, da COX-2 e IL-848
O ibuprofeno (Advil®) e a indometacina (Indocid®) - mas não o naproxeno (Naprosyn®), o
celecoxib (Celebra®) ou o ácido acetilsalicílico (Aspirina®) - demonstraram reduzir os níveis de
Aβ acima de 80% em cultura de células. Como nem todos os antinflamatórios não-esteroidais
apresentaram esse efeito, acredita-se que essa redução ocorreu por um processo independente
da atividade antinflamatória sobre a COX. Além disso, outro estudo também demonstrou que neurônios tratados com inibidores da COX-1,
como o ibuprofeno e o ácido acetilsalicílico, foram mais resistentes aos efeitos da Aβ, em
comparação aos neurônios tratados com inibidores da COX-250. O estudo também demonstrou
uma redução na produção de PGE nos neurônios tratados com inibidores da COX-1 e COX-2. A
indometacina foi capaz de suprimir a expressão de numerosos genes pró-inflamatórios em
monócitos, além da micróglia. A administração da indometacina também produziu
neuroproteção por inibir a indução da COX-2, a qual foi capaz de potencializar a
excitotoxicidade e aumentar a produção de radicais livres e fatores de necrose. Infelizmente, estudos clínicos com antinflamatórios não-esteroidais em pacientes portadores da
doença de Alzheimer não têm sido muito satisfatórios, desapontando especialmente  quanto ao
uso dos inibidores da COX-252. Um recente estudo randomizado duplo-cego e placebo controlado, determinando o efeito do inibidor seletivo da COX-2, o rofecoxib (Vioxx®), e de um
inibidor não-seletivo da COX, o naproxeno, em comparação ao grupo placebo, na progressão da
doença de Alzheimer, demonstrou que esses antinflamatórios não diminuíram o declínio cognitivo dos pacientes portadores da patologia suave a moderada. Dentre as razões, os
autores sugeriram a possibilidade de a neuropatologia estar muito avançada para a terapia com
as drogas antinflamatórias não-esteroidais surtirem efeito. Outro estudo em ratos
demonstrou que o rofecoxib reduziu a perda de neurônios colinérgicos e a resposta inflamatória
cerebral induzida pelo ácido quisquálico. Contudo, em um ensaio randomizado, duplo-cego e
placebo controlado, o rofecoxib não reduziu o declínio cognitivo induzido pela doença de
Alzheimer. Um estudo, a fim de determinar o efeito do ácido acetilsalicílico (inibidor não-seletivo da COX)
sobre a agregação da Aβ e sobre a produção de APP, demonstrou que essa droga não foi capaz
de modificar os níveis de Aβ e APP no soro e no plasma, sugerindo que a COX não exerceu
um papel importante na secreção de APP.
Um dos fatores de prevenção quanto ao uso dos antinflamatórios não-esteroidais para redução
do risco de desenvolvimento da doença de Alzheimer é a toxicidade associada a esses
medicamentos. As drogas antinflamatórias não-esteroidais foram reconhecidas por causar
problemas gastrointestinais, renais, hematológicos, cardiovasculares e sobre o sistema nervoso
central, sendo que a população idosa, a qual faria uso desses medicamentos, seria mais
suscetível aos efeitos tóxicos. Quanto aos antinflamatórios esteroidais, os glicocorticóides foram considerados agentes
antinflamatórios potentes, atuaram na regulação da transcrição das moléculas inflamatórias,
inibindo a ação das enzimas que mediariam a produção de PG, a COX, e reduziram a expressão
de citocinas, as quais foram pró-inflamatórias. Entretanto, a evidência epidemiológica na qual
os antinflamatórios esteroidais (glicocorticóides sintéticos) seriam benéficos no tratamento da doença de Alzheimer foi relativamente fraca. Um estudo randomizado e placebo-controlado,
conduzido a fim de determinar se o tratamento com prednisona (Meticorten®) diminuiria o
declínio cognitivo em pacientes portadores da doença de Alzheimer, demonstrou que não houve
diferença significativa entre o grupo tratado e o grupo controle.

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